Coração,
não vos canseis
De
bater... que importa lá?
Porque
os amores fiéis,
Nem
a morte os vencerá.
Ó
figuras de velhinhos
Que
andais dormitando ao léu!
Como
são belos os Linhos
Que
vos esperam no Céu!
Dizem
que os mortos não voltam...
Voltam
sim. E por que não?
Os
corpos daí nos soltam,
Como
às aves o alçapão.
Nem
gritos e nem cantigas
Entre
vós que à noite andais;
As
almas das raparigas
Inda
sonham nos choupais.
Nas
grandes mansões da morte
Inda
há romance e noivados,
Venturas
da boa sorte,
Corações
despedaçados.
Quem
riu ontem, quem ri hoje,
Nem
sempre poderá rir...
Um
dia o riso lhe foge,
Sem
que o veja escapulir.
Riquezas,
que valem elas
Se
estão na sombra ou sem luz?
Tesouro
são as estrelas
Da
bondade de Jesus.
Pode-se
amar o veludo
De
uns olhos e os brilhos seus,
Porém,
acima de tudo
Devemos
amar a Deus.
Vós
que amais a luz da Lua,
De
vossa alma abri as portas
Para.
os fantasmas da rua,
Que
choram nas horas mortas.
Pensei
que a morte era o fim
Das
ânsias do coração;
Contudo,
não é assim...
Nem
pó e nem solidão.
Às
vezes acham-se fojos
Onde
há música e festins,
E há
muitos cardos e tojos
Entre
as flores dos jardins.
Se
eu pudesse, estenderia
Minhas
capas de luar,
Sobre
os filhos da agonia
Que
andam no mundo a penar.
A
morte só pode ser
A
vida risonha e pura,
Para
quem a padecer
Vive
aí na sepultura.
Mal
vais, se vais caminhando
Na
ambição de ouro e glória;
Nesse
mundo miserando
Toda
ventura é ilusória.
Chorai!
chorai orfãozinhos,
Vossas
dores amargosas:
Achareis
noutros caminhos
As
vossas mães extremosas.
Deixa
cantar, ó menina,
Teu
coração sonhador...
No
sepulcro não termina
O
novelário do amor.
Um
anjo cheio de encanto
Vive
sempre com quem chora,
Guardando
as gotas de pranto
Numa
urna cor da aurora.
No
Universo há céus profundos,
Cheios
de vida e esplendor,
Um
céu é um ninho de mundos,
Um
mundo é um ninho de amor.
A
caridade é a beleza
De
um divino plenilúnio,
Luz
que se estende à pobreza,
Na
escuridão do infortúnio.
Aos
mendigos desprezados
Não
ridicularizeis,
São
senhores despojados
Dos
seus tesouros de reis.
Aqui,
a alma inda espera
O
alguém que na Terra amou,
O
raio de primavera
Que
aí jamais encontrou.
Há
quem faça aí mil contas,
Que
os interesses resuma,
Mas
morrem cabeças tontas,
Sem
fazer conta nenhuma.
Tecei
sonhos, fiandeiras,
Oh!
almas enamoradas,
Vivei
aí nas clareiras
De
luzes alcandoradas.
Ah!
que sinto aqui saudades
Das
noites de São João,
Sonho,
estrelas, claridades,
Cantigas
do coração.
Na
minha vida de agora
Não
canto as festas louçãs,
Naquelas
toadas de outrora
As
moçoilas coimbrãs.
Acompanha-me
a tristeza
Das
saudades, por meu mal;
Minha
terra portuguesa! ...
Meu
querido Portugal! ...
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Livro:
Parnaso de Além-Túmulo
Médium:
Francisco Cândido Xavier
Autor
Espiritual: Espíritos Diversos
Ano:
1932